quinta-feira, 17 de abril de 2008

Democracia



Seria interessante parar um momento e refletir sobre a democracia. Não são poucos, hoje e noutros tempos, que teceram considerações a esse respeito. Um autor que tenho lido ultimamente é o italiano Norberto Bobbio. Chama atenção sua de que a democracia direta é, não apenas impossível, mas seria humanamente indesejável!

Numa tal situação – insuportável – , tudo seria política. Não haveria espaço para vida privada. Algumas correntes políticas e teóricas, de fato, defendem essa sociedade, o estado máximo ou o cidadão total, cuja ação, qualquer seja ela, é revestido de fins políticos.

É importante salientar que Bobbio não considera democracia, de maneira binária: existe ou não existe. Ele a coloca em nível de escala, com maior ou menor grau. O mesmo serve para a representação. Por isso, a democracia direta e a representativa não são alternativas ou contraditórias. Podem existir – e existem – no mundo empírico.

Bobbio é considerado um socialista liberal. Ele crê existir separadas a esfera da economia e da política. Isso não quer dizer que a economia deva ser hierárquica. Ele acha que, onde quer que haja, o poder deve ser democrático. Isso não consiste em dizer que a economia deva ser politizada! Mas democratizada. Isto porque a esfera econômica influencia a esfera política. E se esta não for democrática, então aquela também não o será.

Isso me lembra Habermas. Diferentemente de Bobbio, Jurgen Habermas pensa a economia como um sistema com regras próprias, sem discussão dos fins. Então, a política (o estado) não deve interferir na economia, senão em casos defensivos, ou seja, quando a economia interfere na política.

Concordo com Habermas, se o que ele chama de economia for estritamente a economia de mercado. Nela, com razão, os atores se colocam num jogo cujo único fim já é dado: o lucro. É claro, leitores, que um tal mercado é empiricamente raro (senão impossível, como diria Karl Polanyi). Qualquer agente - na economia, em geral, e no mercado, em específico - cultiva valores sociais. Por exemplo, o luxo, o egoísmo, a filantropia.

De tudo, o mais curioso em Bobbio é sua caracterização das democracias modernas. Seu objetivo, diz, sempre será o de garantir diferentes centros de poder na sociedade. Robert Dahl chamaria a isso "Poliarquia". A poliarquia não concentra o poder no estado, mas em diversos grupos sociais. Grupos estes com menos hierarquia e mais participação. Isto é importante, porque considero estes centros de poder presentes por todo lugar. Eles compartilham valores e são altamente responsáveis pelo desenvolvimento da economia. Entretanto, não raramente, são ignorados pelos pensadores e pelo estado.

Nenhum comentário: