quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Momento Político Atual Brasileiro

Ao iniciar pequena pesquisa sobre o tema deste paper me deparei com dezenas de sites alguns respeitáveis, outros nem tanto, seguindo a mesma linha: o momento político atual brasileiro está em crise. As críticas feitas, apesar de um pouco tendenciosas (entenda-se aqui tendenciosas como o “poder midiático” de negligenciar alguns pontos e ressaltar outros) nada mais refletem a não ser a situação pela qual passamos.

Nos últimos meses nos deparamos com uma “artilharia” pesada de escândalos políticos, ao todo, até o presente momento, totalizam cerca de 101, dentre os quais os de destaque máximo na imprensa, como “o caso do mensalão, o caso Renan Calheiros, o caso José Sarney, a CPI dos Correios...”. Tal situação, sob meu ponto de vista, representa uma espécie de paradoxo para a questão política, pois, de um lado temos o ganho da descoberta e sua adjunta publicidade de problemas políticos graves, que envolvem assuntos que dizem respeito (e muito) a toda a sociedade; de outro a questão que acarreta problemas tão sérios quanto os próprios problemas descobertos, como por exemplo, a exaltação do afastamento da política e dos ideais políticos.

Cabe aqui tecer um comentário sobre cada lado deste paradoxo. É evidente que nossa sociedade não é burra e desatenta ao ponto de pensar que nossos políticos são pessoas que agem com retidão, valorizando o bem comum, a atenção social, os desejos do povo. Não é de hoje que sabemos todos (e ignorante aquele que pensa o contrário) que não temos uma democracia representativa, mas sim um sistema político no qual os eleitos fazem o que querem, zombam da cara dos cidadãos, utilizam as organizações públicas e tudo que está ao seu dispor para guiarem nossa federação da maneira que melhor lhes aparentar ser. Nesse mecanismo funcionamos apenas como idiotas que recebem o nome de eleitor e que acabam entrando, diga-se de passagem, a maioria, em um jogo de favores/de suprimento de necessidades próprias, individuais – ficando de lado o espírito democrático social. É evidente que há aqueles que se engajam em mudança, em desejo de melhorias, de transparência nas ações, e estes estão de ambos os lados – eleitores e políticos. No entanto, são uma minoria sofredora. Evidenciamos isso ao nos depararmos com rostos “velhos” no cenário, evidenciamos isso ao vermos políticos totalmente ímprobos sendo reeleitos.

Quando escândalos políticos são colocados em cena, divulgados, criticados, deixados em transparência, a sociedade pode confirmar aquilo que já sabe e ficar mais esperta, mais atenta, ou porque não falar em mais responsável. Afinal, os políticos lá estão em seus cargos eletivos porque a sociedade os colocou lá.

O ramo contrário desse paradoxo diz respeito à abstenção política que toma conta dos cidadãos. Por isso um paradoxo, e um paradoxo grave e extremamente problemático. Ao invés de partir para a mudança, a inovação, o desejo de um poder legislativo e executivo mais atuante, mais probo, mais accountable, as pessoas se acomodam, elas se abstêm da participação política que lhes é conferida, abstêm-se de lutar por aquilo que é seu de direito e, com isso, acabam permitindo que tudo continue como está. Isso quando o mais trágico não acaba se consolidando, isto é, quando elas se abstêm de lutar pela mudança (em outras palavras, pelo melhoramento daquilo que é seu), mas contribuem para a manutenção da zombaria, do desrespeito, da falta de ética, e do empoderamento dos grupos políticos gananciosos. Aliás, quando citei ética me veio à memória que este é um assunto que deve causar arrepio na consciência da grande maioria dos nossos políticos. Que o digam os legisladores federais, cujo presidente do Conselho de Ética marcou as páginas dos principais jornais do país sob as manchetes de corrupção.

É lamentável, mas os casos de desrespeito com o cidadão no Brasil vêm desde sua criação. José Celso de Macedo Soares, Almirante, empresário e comentarista político, ilustra bem esse fato ao retomar alguns episódios históricos: “O burocrata colonial português chafurdava-se na corrupção. O Ouvidor Geral, Pero Borges e o Provedor Mor, Antônio Cardoso de Barros, que aqui chegaram com Tomé de Sousa, foram acusados de desviar dinheiro do Tesouro Régio. O primeiro bispo do Brasil, Pero Fernandes Sardinha, foi acusado de perdoar pecados dos fieis em troca de dinheiro. O Tribunal da Relação da Bahia, primeiro Tribunal de Justiça do Brasil, criado em 1609, foi fechado em 1629 por corrupção. Não é de admirar, com tal origem, o que estamos vendo hoje no Brasil”. (Soares, 2009)

No entanto, nem tudo são problemas. Devemos reconhecer que contamos com políticos extremamente éticos, notadamente comprometidos com o bem comum, com a sociedade, com um Brasil mais justo, mais correto, mais democrático. Políticos que, embora possam ao decorrer de sua história terem passado por algumas adversidades, transparecem em suas ações a dedicação para com o cidadão.

Quando me refiro a políticos assim me refiro, por exemplo, ao Senador Eduardo Suplicy, cuja história é marcada por “limpeza”, dedicação, valorização democrática. Cito, rapidamente, e embasado em reportagem publicada no jornal Diário Catarinense, que no mesmo dia em que foi aprovada a lei que aumenta o número de vereadores nas cidades, foi rejeitado projeto de lei apresentado pelo senador supramencionado, o qual tratava da transparência pública nas campanhas eleitorais.

Por fim, o Brasil apesar de estar com destaque internacional no setor econômico, com destaque internacional no que diz respeito a ser a sede da Copa do Mundo, dos Jogos Olímpicos, e tantos outros, ainda é um país com muita coisa a resolver em nível interno.

Temos tido certo avanço no que diz respeito à melhoria nos serviços de saúde, na segurança pública, na educação, todavia este avanço tem se mostrado tão pequeno que, por vezes, passa despercebido. Não venho aqui ser tendencioso, criticar a gestão em execução, desmerecer os passos dados, mas também não posso agir como uma massa de manobra ignorante que acredita estarmos passando por uma fase de tranqüilidade, calmaria, bons resultados. Não, não sou eu que estou dizendo que não estamos em um mar de rosas, é a situação em si que está expressando essa realidade.

Basta observarmos nosso cenário político, os absurdos dos quais fomos informados nos últimos meses, as crises que tomam conta do nosso Congresso Nacional, a falta de ética da maioria dos nossos representantes para, então, vermos que, definitivamente, não estamos passando por uma “marolinha”, um “remanso”, mas sim, por uma verdadeira “tsunami política”, uma onda em cuja crista estão os debochados e em cujo vale estamos nós, os pilares desse sistema conturbado.


Texto: Ricardo Marques Duarte - Acadêmico 2ª fase do Curso de Adm. Pública, ESAG/UDESC, Florianópolis.

2 comentários:

soninha disse...

xcelente texto, Ricardo!

Marina . disse...

Grande texto, Ricardo. Estou de acordo com o que bem mencionasses.
Da parte dos estudantes de Administração Pública cabe saber discernir tais questões. Quer dizer, jamais entrar nessa sina e combater por meio da prática profissional ética essas "ondas" nada confortáveis para nós, brasileiros.